Campo Grande, 12 de abril de 2024
Por: Luciana Abou Ghattas
Em sessão de julgamento do Tribunal do Júri em Minas Gerais, um Promotor de Justiça chamou a advogada Sarah Quinetti de “galinha” que estaria fazendo “strip-tease” em plenário.
Para além dos impropérios misóginos desfechados por quem deveria promover justiça, jamais disseminar preconceitos, o ponto que coloco em discussão é o nível a que a oratória forense chegou nestes tempos estranhos.
Como pode um membro da instituição de Campos Salles, que foi a casa de Roberto Lyra, Tourinho Filho, Damásio de Jesus e outros luminares da inteligência jurídica nacional, rastejar com habilidade de um elefante em loja de porcelanas no pantanoso terreno da mediocridade verbal?
O que está acontecendo com a oratória forense?
Alguns arriscam dizer que este processo de degradação vem paulatinamente ocorrendo desde a massificação inconsequente dos cursos de ensino jurídico que lançam no mercado profissional pessoas destituídas de cultura jurídica.
Outros apontam para a vulgarização do saber jurídico pela infiltração devastadora da lógica das redes sociais que reduziu tudo a um grande espetáculo visual em que a maior virtude é ser diferente pela extravagância do bizarro. Neste norte, juristas ganham likes nas redes quando fazem cambalhotas no plenário, forjam brigas para transparecerem combativos e ofendem o rito protocolar propositalmente em busca de visibilidade.
Prefiro engajar-me em outra corrente de constatação. Sustento que estas transgressões perpetradas por quem opera o Direito se dá pela má formação ética e moral da personalidade de quem pensa estar habilitado a exercer o munus jurídico. Sim, pois não são poucos os juristas que incorrem em graves episódios de falta de compostura que são autores de livros consagrados cuja reputação no meio acadêmico e intelectual é indiscutível. Daí porque concluo que não é apenas falta de cultura jurídica que leva ao extremo dos atropelos verbais e de postura, mas falha mesmo de caráter, defeito intrínseco de personalidade e má formação da própria identidade pessoal e profissional.
Por essas e outras, invoco a memória de Iracema Tavares Dias, a primeira Promotora de Justiça do Brasil, imaginando-a assistindo ao deplorável desempenho de seu colega mineiro que, confundindo o sagrado plenário do Júri, com o mais abjeto e rasteiro dos ambientes, protagonizou uma das mais lamentáveis e tristes cenas da rotina judiciária brasileira.