Por Fabiana Trad.
Campo Grande, 11 de fevereiro de 2025.
Profecia, agouro ou mais uma consequência da nefasta realidade punitiva: há duas semanas, nesta mesma coluna do site O Garantista, foi alertado que o caso dos cajus seria apenas mais um. E assim foi.
Elvis Cleiton da Silva Batista, linchado no dia 10 de janeiro após ser acusado de estupro contra uma criança de 9 anos, foi alvo de uma sociedade que não almeja justiça, mas vingança.
Raúl Zaffaroni, em seu livro A Questão Criminal, ao citar René Girard, esclarece com precisão esse fenômeno: “Chega-se, dessa maneira, à violência coletiva: verte-se sangue que reclama mais sangue- vingança- em uma escalada de violência essencial que só cessa quando se canaliza numa vítima expiatória, cujo sacrifício resulta milagroso, pois faz cessar de imediato a violência destruidora.
A vítima pode encarnar o mal de toda a sociedade, canalizar a vingança de todos seus integrantes, sem importar se é culpada ou inocente.
O nazista Carl Schimitt aconselhava precisamente isso: buscar quem seja mais adequado para fazê-lo alvo de toda a raiva social, sem importar se é bom ou mau, feio ou bonito, a única coisa que deve importar é que seja útil para torna-lo responsável por todos os males. ´´
Foram treze os espancadores. Segundo relato da Delegada, alguns não sabiam sequer o motivo da brutalidade. Apenas, como os outros, espancavam-no, saciando o desejo instintivo.
Cessado o ato de violência e finalizadas as investigações, chegou-se à conclusão de que a acusação contra Elvis era infundada. Quem sabe, se existe Lei divina, Elvis tenha, em seus últimos momentos, compreendido aquilo que, durante o processo brutal que sofreu, sequer teve tempo de refletir: sua inocência.
Elvis Cleiton da Silva Batista, morto a pedradas no dia 10 de janeiro no bairro Santa Cecília, em Juiz de Fora, após ser acusado de estupro, era inocente, concluiu a Polícia Civil.