De Betim para o mundo: a trajetória de um tribuno que tem marcado história

Campo Grande, 17 de junho de 2024

Por Junior Maksoud

Os campo-grandenses das décadas de 50, 60 e 70, eram brindados com a aprumo oratório de um tal “mineirinho”, apelido dado a Heitor Medeiros, que empresta o nome ao Fórum da capital sul-mato-grossense. A alcunha se dava pela baixa estatura do célebre causídico e pelo fato de ter nascido em Itajubá-MG. A 414 (quatrocentos e quatorze) quilômetros desta pequena cidade, nascia, em 30 de outubro de 1978, Rodrigo Stochiero.

O mineiro de Betim chegou em Mato Grosso do Sul em setembro de 2009, e em Campo Grande em 2016. Rapidamente ganhou a confiança dos réus no júri, e a admiração da comunidade jurídica de Mato Grosso do Sul. Com mais de 300 (trezentos) júris na carreira, Stochiero, é, certamente, um dos que atuam com mais frequência no Tribunal do Júri de Campo Grande.

Exemplo e inspiração aos jovens advogados no júri, o “novo mineirinho” já se estabeleceu entre os operadores do direito pela influência a nova leva de advogados apaixonados pelo júri e pelos resultados positivos conquistados semanalmente na esquina mais calorosa de Campo Grande (Rua da Paz com 25 de dezembro).

O Garantista: Por que escolheu o direito?

Stochiero: Escolhi o direito por conta de meu pai, que era advogado e procurador municipal. Através dele conheci o direito, mas sobretudo a advocacia e sua importância para a vida social, além da beleza do discurso e argumentação jurídica.

O Garantista: Quando decidiu ser defensor público?

Stochiero: Iniciei na advocacia, mas não me atraia a ideia de captação de clientes e de estabelecer valor pelo meu trabalho. Por outro lado, eu gostava de atender pessoas, ouvir as histórias, buscar soluções, o que define em certa maneira o papel do defensor público. A experiência com o público nos anos de estágio na assistência jurídica que havia no município de Betim revelou essa predileção. Assim, a carreira pública foi o caminho que me pareceu correto e que possibilitaria esse contato com pessoas, principalmente aquelas que transitam na invisibilidade social.

O Garantista: Como surgiu a paixão pelo Tribunal do Júri?

Stochiero: Antes de ingressar na defensoria pública, confesso que o tribunal do júri me era indiferente. O meu primeiro júri fora a prova de tribuna para ingresso na instituição. Mas quando pisei pela primeira vez no tribunal das lágrimas foi amor à primeira vista. Experimentei sensações que nunca havia experimentado. O tão falado “estado de júri” arrebatou a minha devoção pela tribuna, ainda mais com a absolvição alcançada naquele primeiro caso.

O Garantista: Qual o júri mais marcante da carreira?

Stochiero: O júri que mais me marcou e que frequentemente visita a minha memória tratou de uma acusação de tentativa de homicídio imputada aos pais de um bebê que, logo após o parto, abandonaram à própria sorte o recém-nascido literalmente no mato, na região rural de uma cidade do interior. Era um caso complexo, mas que terminou em um final surpreendente, com sete mulheres reconhecendo que aquele não era um caso de direito penal, mas sim um retrato dos dramas causados pela desigualdade social e da falta que o amor faz na vida de algumas pessoas. A clemência oferecida pelo Conselho de Sentença foi uma das maiores demonstrações de justiça que já tive o privilégio de presenciar na tribuna.

O Garantista: Quantos juris já fez? Anualmente costuma fazer quantos júris? Este ano fez quantos?

Stochiero: Ultrapassei no último ano de 2023 a marca dos 300 (trezentos) júris. Atualmente tenho feito de 5 a 8 júris por mês, sendo que nesse ano de 2024 já participei de 18 sessões.