ARTIGO: A desfaçatez dos velhos democratas

Por Tiago Bana Franco.

A desfaçatez dos velhos democratas

La fuite ne sert à rien, disait l’écrivain Paul Nizan. Je reste. Si je me bats, la peur s’évanouit. » Aujourd’hui, se battre commence par ne pas détourner son regard sur l’origine du mal. Est-ce si difficile ? (Serge Raffi no Le Point Politique de 14.10.24)

Interessante como os ventos que balançam a democracia demovem as máscaras dos tiranos e daqueles que o seriam, se pudessem.
Depois de o sacarem da cadeia, com uma manobra jurídica que faria corar até o mais desavergonhado magistrado da Venezuela, os atuais ministros do Supremo Tribunal Federal reabilitarem-no politicamente, venderem a ideia de que só e somente ele poderia combater o imaginado golpe antidemocrático tramado sabe-se lá por quem, e conduziram Lula à presidência da República, tal qual Virgílio havia feito com Dante, retirando-o do Inferno e pondo-o nos braços de Beatriz para que alcançasse o paraíso! É bem verdade que, no caso de Lula, a Beatriz que o recebeu não é lá grande coisa, mas Janja não é problema nosso, ou não deveria sê-lo!
A democracia brasileira estaria salva, portanto. Com Lula! Justamente aquele que havia comprado apoio parlamentar com dinheiro desviado dos Correios, da Petrobras e etc.
Como se fossem poucas as decisões com as quais o Supremo desafiou a ordem jurídica para alcançar tal intento de resgatar a democracia brasileira, tomando-a para si como se refém dele fosse, sobrevieram as escandalosas mensagens trocadas pelo WhatsApp por assessores de seus ministros, conversas nas quais se viram claramente os métodos usados para impor aos brasileiros descontentes a mais descarada censura por meio de interpretações criativas e inventivas da lei.
Sobre o teor dessas mensagens, reveladas a conta-gotas pela Folha de São Paulo, jornal que até ontem era o aliado de primeira hora do Supremo, as conclusões das pessoas sãs dirigiram-se à estupefação!
Essas mensagens não causaram qualquer escândalo, no entanto. Para escandalizar os brasileiros atualmente, não se sabe mais o que seria necessário. Prisão de parlamentares e generais, censura prévia, julgamentos de pessoas comuns pelo Supremo Tribunal Federal, absolutamente incompetente para fazê-lo, penas absurdas impostas a quem participou do quebra-quebra do dia 08
 de janeiro, inquéritos intermináveis com objeto indefinido. Tudo isso parece não ruborizar mais ninguém!
De fato, além de não incomodar os brasileiros comuns, já acostumados que estamos ao descalabro puro e simples, há algo pior: existem aqueles que defendem o atual estado de coisas. Mesmo depois de todas as revelações, de todos os abusos, do descaramento desavergonhado das decisões sem qualquer respaldo legal, das declarações feitas por seus Ministros dentro e fora de suas dependências, existe quem ainda seja capaz de justificar o injustificável caminho trilhado pelos Supremo, estreita viela pela qual somos guiados em direção ao abismo da ditadura do Judiciário.
Causando até um enojado enjoo, esses defensores do Supremo são os outrora democratas, aqueles que assinaram cartinhas e tudo o mais, os mesmos que hoje se calam diante do descalabro jurídico que se desnuda calmamente diante dos olhos.
Sobre esses tais, não haveria muito o que falar. Ou perderam a sanidade ou encheram os bolsos com os cobres retirados da patuleia. Só que agora foram desmascarados, definitivamente desmascarados porque a rota máscara da democracia caiu de suas faces, as quais, deformadas que estão como o rosto de Dorian Gray, não mais poderão ser ocultadas pela desvelada hipocrisia de ontem!