Entre o caju e o veneno: quando a pressa em condenar mata a Justiça

Por Fabiana Trad

Campo Grande/MS, 23 de janeiro de 2025.

Há no sistema penal vigente uma necessidade intrínseca de condenar, que se origina de diversos fatores. O motivo principal é a tentativa de canalizar o desejo de vingança e violência presentes na sociedade, alimentados por uma percepção distorcida de que os “culpados” já estão presos.

No entanto, muitos dos considerados “culpados” de maneira antecipada não carregam a verdadeira culpa. Não cometeram o delito a eles imputado, mas são sobrecarregados pelo fardo de, na maioria das vezes, serem pobres e vulneráveis, alvos de uma criminologia midiática ávida por condenar. E, para o sistema, esse é o pior dos crimes.

Lucélia Maria da Conceição, uma mulher cuja vida desmoronou em agosto de 2024, foi acusada injustamente de um crime que jamais cometeu. A acusação que recaiu sobre ela, cruel e devastadora, era a de ter envenenado dois meninos, de sete e oito anos, oferecendo-lhes cajus contaminados com uma substância semelhante ao chumbinho. Esse ato brutal, que ela nunca perpetrou, a colocou sob o olhar implacável de uma sociedade faminta por culpados, sedenta por respostas rápidas e fáceis.

Lucélia foi presa e permaneceu durante cinco meses dentro de uma cela precária e superlotada. Não foi o suficiente; à la estrutura inquisitorial medieval, sofreu linchamento por parte da população parnaibana. Queimaram seu lar, prometeram-lhe espancamento e a ameaçaram de morte.

A sede de condenação é cega e envenena. Nesse impulso desenfreado, esqueceram-se de um detalhe crucial: a perícia nos cajus. O laudo, que chegou cinco meses depois da tragédia, trouxe a resposta clara e irrefutável: negativo para qualquer substância tóxica. A consequência? A comprovação da inocência de Lucélia, uma mulher que, antes de ver a verdade emergir, foi linchada, teve sua casa destruída, foi ameaçada e passou meses presa, injustamente, nas sombras da condenação.

Mas, para o sistema, isso pouco importa. A roda há de girar, e mais inocentes tornar-se-ão alvos desta (i)lógica perversa.

O caso dos cajus é apenas mais um.