Por redação.
Campo Grande/MS, 5 de dezembro de 2024.
O primeiro dia de julgamento de Stephanie, acusada de envolvimento no crime que vitimou sua filha Sophia, foi marcado por um depoimento tenso e emocionado. Stephanie foi a primeira a ser ouvida, atendendo a um pedido da defesa de seu ex-companheiro, Christian. Durante sua declaração, a ré descreveu com detalhes a violência física e psicológica que teria sofrido nas mãos de Christian e as circunstâncias que antecederam a morte de sua filha.
Stephanie iniciou seu depoimento falando sobre o início de seu relacionamento com Christian, destacando que, no começo, ele parecia ser uma pessoa afetuosa e atenciosa. No entanto, a acusada revelou que, após descobrir sua gravidez, o comportamento dele mudou drasticamente. Segundo ela, Christian se tornou agressivo e abusivo, algo que ela não havia experimentado antes no relacionamento.
O relato de Stephanie sobre o fim do relacionamento foi igualmente doloroso. Ela contou que, apesar da separação, Christian chegou a sugerir uma reconciliação, mas com uma condição: que ela deixasse a casa onde moravam e fosse morar em uma residência alugada, perto da família dele. Stephanie explicou que essa proposta surgiu após uma série de brigas com os vizinhos, que estavam relacionados a uma denúncia de maus-tratos a animais feita durante o período em que ela e Christian viviam juntos.
As lembranças de agressões físicas marcaram o depoimento de Stephanie. A acusada detalhou episódios de violência, incluindo agressões enquanto estava grávida de oito meses. Ela descreveu uma agressão específica, em que, apesar de sentir muita dor, Christian teria minimizado seu sofrimento e pedido para que ela não fizesse “escândalo”. Ela também mencionou que outras agressões ocorreram ao longo do relacionamento, todas evidenciando o sofrimento físico e emocional que ela viveu ao lado de Christian.
Em um momento do depoimento, Stephanie não conseguiu controlar as emoções e a voz, que estava visivelmente embargada, e chegou a chorar. Ela foi questionada sobre uma acusação de sua sogra, que havia afirmado que Stephanie agrediu a filha Sophia durante um churrasco em família. A acusada refutou essa versão, afirmando que quem agrediu a criança foi Christian.
Stephanie também relembrou o dia em que Sophia faleceu. Ela contou que, antes do almoço, pensou em levar a filha ao posto de saúde devido a um desconforto apresentado por Sophia, mas Christian a convenceu a esperar, alegando que o remédio dado à criança ainda faria efeito. Após o almoço, Sophia acordou com dores e barriga inchada. Foi nesse momento que Stephanie, com dor no coração, se declarou vítima de Christian e o acusou de ser responsável pelos maus-tratos a Sophia.
A reação de Stephanie ao saber da morte de Sophia também foi abordada durante o interrogatório. Ela confirmou que, ao tentar abraçar a filha no hospital, foi impedida pelos médicos. Com a voz embargada, relatou que mal conseguia ficar de pé e foi amparada pela mãe. A acusada negou as afirmações de uma testemunha, que alegava que ela teria permanecido no celular durante o atendimento médico, explicando que estava com o aparelho na mão, mas não digitava e acompanhou todos os procedimentos.
Durante o interrogatório, o promotor José Arturo questionou Stephanie sobre o motivo de ela não ter deixado a relação abusiva, uma vez que sabia das agressões que Christian lhe infligia e da violência observada nas crianças. Stephanie respondeu que não sabia a origem dos hematomas em Sophia, pois a filha estava sendo coagida por Christian, alegando que havia caído. Ela também destacou o medo constante que sentia de perder a guarda das filhas, devido às ameaças de Christian.
A defesa de Stephanie, conduzida pelo advogado Alex Viana, discordou das acusações de omissão feitas pelo promotor e pediu esclarecimentos sobre a situação. Em resposta, Stephanie relatou que, durante o trajeto até o hospital, tentou fazer massagem cardíaca em Sophia, dizendo: “A mamãe está aqui”. Ela enfatizou que estava desesperada, mas que não tinha gritado ou causado alarde.
Stephanie também fez uma revelação pessoal durante seu depoimento, ao admitir que consumia bebidas alcoólicas, mas alegou que fingia usar drogas para evitar brigas com Christian. Quando questionada sobre a motivação para o crime, a acusada afirmou que não havia justificativa para o que aconteceu com Sophia, uma vez que a criança não merecia tal destino. A defesa de Stephanie interveio, questionando a acusação de qualificadoras (fútil e cruel), e o juiz deferiu a objeção.
Visivelmente emocionada, ela descreveu Christian como um “louco, psicopata e manipulador”, e afirmou que se sentia injustiçada por ser comparada a ele, um homem que, segundo ela, destruiu sua vida.
Ao final do depoimento, Stephanie se declarou com grande afeto pela filha falecida. Ela disse que amaria Sophia para sempre, pois a criança era “tudo o que ela tinha”. Quando questionada se pensou em se separar de Christian após presenciar as agressões contra a filha, Stephanie respondeu que sim, mas o medo da violência de Christian a impediu de tomar essa decisão.
O interrogatório de Stephanie encerrou o primeiro dia de julgamento. O próximo depoimento será de Christian, que será ouvido hoje, quinta-feira, no segundo dia de julgamento.