Campo Grande, 25 de abril de 2024
Por: Fábio Trad Filho
Recentemente estive na Grécia, estava em uma praça onde tocava música árabe. Estávamos eu e minhas duas irmãs, Tais e Fabiana.
Em nossa frente um grupo dançava Dabke[1]. Como somos descendentes de libaneses, aquilo nos deixou felizes, os rapazes viram nossa felicidade e ficamos amigos.
Eram Belal Asfuor, Hosam Sameer Abu Sameer e mais 05 Palestinos. Trataram-nos como irmãos. Extremamente respeitosos com minhas irmãs e honrados e gentis comigo.
Conversamos aquela noite até o início da madrugada. Meu coração sangrou quando Asfuor me perguntou: “Com quem o Brasil guerreia?” E eu respondi: Com ninguém, meu amigo, somos um país em paz.
Disseram-me: “Todos os dias nos despedimos de alguém de longe. Já nos acostumamos com a morte, eles bombardeiam nossas ruas, nossas escolas, nossos hospitais, nossas mesquitas”.
Hoje eles trabalham incansavelmente em Atenas para conseguir tirar suas mulheres e filhos da faixa de Gaza para levá-los à Grécia.
O conflito entre Israel e Hamas dura aproximadamente 70 anos.
É preciso dizer que a Palestina não é o Hamas e o Hamas não é o povo palestino.
A população da Faixa de Gaza, na Palestina, era de 2,4 milhões habitantes em 2022, dos quais quase um milhão delas eram refugiados registrados na ONU. A maioria descende de refugiados que foram expulsos ou deixaram suas casas durante a Guerra Árabe-Israelense de 1948.
Hoje a população da Faixa de Gaza é formada pelos palestinos, cuja maioria se considera refugiada. Sua língua principal é o árabe, e, além dele, fala-se o hebreu. O islã é a religião predominante naquele território, como em toda a Palestina, sendo a grande maioria dos seus praticantes sunita.
A Encyclopaedia Britannica ressalta que, nesta parte do Oriente Médio, a agricultura é a principal atividade econômica da população, e ocupa quase três quartos de sua área. A Faixa de Gaza produz principalmente frutas cítricas, além de trigo e azeitonas.
Palestina, juntamente com Jordânia, Líbano e sul da Síria, fazia parte da antiga Canaã, terra inúmeras vezes citada na Bíblia de onde jorraria leite e mel, hoje alvejada por mísseis, drones e regada por sangue.
Feitas estas breves considerações sobre a riquíssima identidade do povo palestino, devemos fazer uma imersão sobre o atual conflito entre Hamas e o Estado de Israel.
Por trás de toda guerra existem interesses e essa não é diferente. Os principais são dos Estados Unidos, Inglaterra e França. Acontece que a Palestina é uma região geográfica estratégica, é o elo de ligação entre Europa, África e Ásia, faz fronteira com Egito, norte da África, banhada pelo mar Mediterrâneo.
O Ministério da Saúde da Palestina, controlado pelo Hamas, afirmou nesta 5ª feira (29. fev. 2024) que o número de palestinos mortos no conflito entre Israel e Hamas chegou a 30.035 na Faixa de Gaza e 414 na Cisjordânia ocupada, somando 30.449.
Cerca de 600 soldados israelenses morreram desde os ataques de 7 de outubro, segundo o exército de Israel, com pelo menos 256 mortos desde o início das operações terrestres em Gaza, no final de outubro.
Nota-se claríssima discrepância: de um lado TRINTA MIL mortos, do outros duzentos e cinquenta e seis.
Conforme a ONU, um relatório da ONU publicado em 1 de março, cerca de 9 mil mulheres terão sido mortas pelas forças israelenses em Gaza. Segundo o relatório, esse número está provavelmente subestimado, já que se acredita que há muitos mais mortos sob os escombros.
Já a agência da ONU para as crianças, a Unicef, mais de 13 mil crianças também terão sido mortas em Gaza desde o início da guerra.
Segundo a ONU, 85% da população no setor sitiado — onde vivem mais de 2,3 milhões de pessoas — foi forçada a evacuar as suas casas devido à atual situação na Faixa de Gaza, que inclui a destruição de infraestrutura e a falta de alimentos, água, combustível e eletricidade.
Noventa e nove jornalistas palestinos foram mortos até hoje durante este conflito, segundo a BBC.
Israel diz que apenas se defende e que seus ataques são contra o HAMAS, as 13 mil crianças eram terroristas, as 9 mil mulheres eram terroristas os 99 jornalistas, terroristas? Os trinta mil mortos, todos terroristas?
Falácia!
A palavra genocídio é forte, é verdade. Mas não é mais forte do que 35 mil mortos.
E, vejamos o que ela, juridicamente, significa: “Genocídio é a eliminação sistemática e intencional de um grupo por meios ativos (aplicação de forças que resultem na morte) ou passivos (negligência e negativa de prestação de assistência). Em geral, os grupos vítimas de genocídios apresentam indivíduos com ligações étnico-raciais, de nacionalidade e religiosas.”
Segundo Hungria, genocídio (do latim genus, raça, povo, nação, e excidium, destruição, ruína) “é o nome com que, por sugestão do internacionalista Lemkin, se convencionou designar a mais chocante feição que já assumiu a infinita maldade do homem contra o homem: o calculado e continuado extermínio em massa de seres humanos, por motivo de sua nacionalidade, raça, religião ou credo político”. [1]
Ora. Em menos de 01 ano de bombardeio sistemático, 35 mil mortos. Em quanto tempo, o Estado de Israel fulminaria todo o povo palestino? Através de bombas, drones, mísseis teleguiados, pelo ar, pela terra?
Não fosse os Direitos Humanos, não fosse a atenta observância do mundo, qual seria a escala de violência empregada contra aquele povo?
Não tenho dúvidas. Não por inclinação política minha, nem por ser, com muito orgulho, descendente de árabes, mas por ler os números!!!! Os dados!!!! A intenção do Estado Sionista de Israel, assim como dos Estados Unidos da América, que é de longe o maior vendedor de armas para Israel e, historicamente, sempre movido pela ganância e poder, contra o povo palestino é Genocida!
Minha ampla solidariedade ao povo palestino. Meus mais profundos votos de Paz, o faço em nome dos meus queridos amigos Belal Asfuor e Hosam Sameer Abu Sameer.
Que vocês alcancem seus sonhos e consigam se reunir com suas famílias em breve, Deus os proteja.
[1] O dabke é a dança folclórica da Palestina, do Líbano e Síria.